Se fosse possível prever o futuro, realizar os investimentos em renda variável seria muito fácil, mas não é assim que acontece na vida real. Quando se fala em renda variável, a incerteza sempre reinará e o fator risco sempre estará presente.
A primeira grande Depressão aconteceu nos EUA em 1929 com a quebra da Bolsa de Valores e, desde então, os americanos têm trilhado um caminho repleto de acertos e erros que gerou diversos estudos tentando prever o futuro, como por exemplo, atualmente os “gurus” que procuram prever as próximas bolhas.
Se você pudesse saber o que vai acontecer no futuro, provavelmente usaria esse “dom” para ganhar dinheiro ou conquistar algo que você deseja muito. A busca do “Santo Graal” assombra diversos estudiosos e isso aconteceu com dois professores americanos, Fischer Black e Myron Scholes, que dedicaram parte de seu tempo para estudar o comportamento do mercado financeiro.
A ideia era criar uma fórmula que pudesse predizer o futuro. Audaciosa, não acha? Mas, infelizmente, não houve progresso durante muito tempo e vários testes de diversos modelos preditivos foram feitos e não geraram resultados satisfatórios.
Depois de algum tempo, como os dois professores eram da escola de economia, decidiram trazer o físico Robert Merton para auxiliá-los a solucionar a questão do risco, que era uma variável importante da fórmula. A questão era: como eliminar o risco das aplicações financeiras?
Merton teve a inspiração de buscar uma solução que era utilizada em foguetes produzidos no Japão. Os japoneses tinham problemas para que os foguetes conseguissem seguir a rota definida e isso foi resolvido com cálculos que corrigiam a trajetória sempre que o foguete tendia sair da rota.
Se os cálculos conseguiam saber o futuro e corrigir a trajetória do foguete, então isso poderia ser aplicado para o mercado financeiro. Bastaram mais alguns ajustes na fórmula e pronto! Agora era só aplicá-la nas compras de ações, e assim nasceu a famosa fórmula de Black & Scholes.
Os artigos publicados sobre esse princípio renderam um prêmio Nobel para os seus criadores. Infelizmente o professor Black veio a falecer antes de receber o prêmio, mas Scholes e Merton seguiram o planejado e aplicaram a fórmula, que utilizava os princípios físicos para anular todo e qualquer risco na compra de ações.
Em pouco tempo, o fundo administrado pelos professores, denominado LTCM – Long Term Capital Management – conseguiu arrecadar mais de 3 bilhões de dólares de capital de terceiros. No primeiro ano, eles conseguiram o retorno de 20 % sobre o investimento feito; no segundo ano, o lucro foi de 43% e no terceiro, chegou a 41%. Maravilhoso, não?
A fórmula era um sucesso e o fundo LTCM tornou-se o mais atrativo pelos investidores. Só que o mercado financeiro é, na verdade, um caos. E como não existe metodologia exata para se lidar com algo que é mutante e inconstante, a fórmula parou de funcionar. De repente, as operações geraram prejuízos de 500 milhões em um dia devido a questões da crise da moratória Russa e alcançou tal grau que até o governo americano teve de intervir. O prejuízo chegou a bilhões de dólares e o fundo faliu.
Essa é uma história que merecia um filme e nos ensina que, infelizmente, não existe um modelo de previsão perfeito. O mercado financeiro é dinâmico, é um ser vivo adaptável, e não existe fórmula mágica que consiga prever suas alterações. O que aqui foi relatado é a prova viva disso.
A Black & Scholes ainda é utilizada por gestores de fundo para precificar opções de ações e é pré-requisito para se analisar qualquer processo seletivo em bancos de investimentos e fundos. Conclusão: para trabalhar com mercado financeiro é necessário estudo e dedicação. Não existe caminho fácil.
Eduardo Cezar de Oliveira (Professor da FTT)
Graduado em Administração
Mestre em Contabilidade
Doutorando em Finanças
Ótimo texto! O documentário The Midas Formula da BBC conta sobre a descoberta da fórmula e a bancarrota do Long Term Capital Management.