Um dos hábitos mais tradicionais do povo brasileiro, e que chega a causar espanto aos estrangeiros que aqui chegam, é a “necessidade” da presença de carne, especialmente a de vaca, à mesa todos os dias ou na maior parte da semana. Devido ao fato de o preço desse tipo de alimento ser elevado na maioria dos países, seu consumo é bem menos comum, por exemplo, na Europa ou no Japão.
No entanto, nos últimos tempos, em razão do aumento do volume de exportação de carne bovina para a China, seu preço subiu bastante no mercado brasileiro e, consequentemente, muita gente está reclamando e protestando veementemente contra esse “abuso” nas redes sociais.
Porém, mais do que reclamar, precisamos entender que as questões econômicas sempre têm uma razão de ser e são estudadas, analisadas e explicadas pelos economistas há muito tempo.
Exemplo disso foram algumas teorias econômicas que se destacaram nos anos 1930, muitas delas decorrentes da Depressão que ocorreu nos Estados Unidos após a quebra da Bolsa de Valores, esclarecendo os motivos que ocasionaram aquela devastadora crise econômica.
Por isso, vale a pena conhecer algumas dessas teorias para tentar compreender os motivos que estão por trás desse problema específico em nosso país.
Uma dessas teorias que pode ser usada com esse objetivo é a que se refere a uma política monetária conhecida pelo termo “expansionista”. Para entendê-la, é preciso ter em mente que o Governo, buscando a expansão da economia brasileira, decidiu utilizar uma de suas “cartas na manga”: a redução da taxa SELIC.
Mas o que isso tem a ver com o preço da carne? Vamos analisar o quadro abaixo:
Analisando o efeito cascata que a redução da taxa básica de juros causa, a primeira dúvida que vem à cabeça é: “A redução da taxa Selic irá desvalorizar o dólar?”, e a resposta é: “não!”.
O que acontece é que os investidores estão sempre em busca de investimentos que ofereçam risco baixo e o maior retorno possível. No Brasil, até 2014, a taxa SELIC era de 14% ao ano. Isso significava que, caso você investisse suas reservas em um título de renda fixa com risco zero (como o CDB ou uma nota do Tesouro Nacional), você receberia um retorno de 14% sem preocupações.
Só que o cenário de agora é totalmente diferente: a taxa de juros desse mesmo título só vai render 5% ao ano. Neste caso, os investidores institucionais (bancos e fundos de investimentos) vão proteger seu capital (chamamos no jargão do mercado de hedge) e vão comprar dólares. Com isso, a moeda norte-americana se valoriza frente ao real e automaticamente há aumento dos preços.
O Brasil é o segundo maior exportador de carne do mundo, ficando apenas atrás dos Estados Unidos. Agora pense como se você fosse um pecuarista: você preferiria vender para o comércio local e receber em reais ou exportar e receber em dólares?
Como a demanda desse insumo continua a mesma, a oferta foi reduzida, o que gera o aumento do preço do produto. Atualmente é a carne que está mais cara, mas se o dólar continuar subindo, outros alimentos sofrerão aumento de preço.
Então, o que fazer? A melhor resposta é utilizar um outro conceito da economia para enfrentar esse problema: o da substituição de produtos.
Ou seja, para não afetar o orçamento doméstico, o jeito é trocar a carne por outros itens da cesta básica e aguardar que o Banco Central realize suas intervenções e os preços voltem a um patamar mais razoável.
Eduardo Cezar de Oliveira (Professor da FTT)
Graduado em Administração
Mestre em Contabilidade
Doutorando em Finanças
Muito bom! Parabéns Prof. Eduardo! Só não gosto do banco central intervindo muito no câmbio. Talvez a oferta de carne volte a aumenta após problemas da peste suína na Africa e Asia assim o equilíbrio dos preços será mais pra baixo. Continue escrevendo, adoro o tema.
Clara explicação, muito boa,. Também queria saber qual o benefício para o Brasil da queda dos juros, já que tivemos uma alta no preço da carne. Os agropecuaristas ganham, porém a princípio parece-me que para o brasileiro não foi bom.
Olá Miriam, sim, para o consumidor não há benefícios a curto prazo mas para o longo prazo sim, uma vez que o sistema econômico acaba forçando o rentista a investir na economia real (abertura de novas empresas) e isso ajuda na concorrência.