Vimos, nos capítulos anteriores, a importância de se construir o texto de forma gradual e cuidadosa, etapa por etapa, lançando mão inclusive de artifícios como o esquema de redação e a leitura avaliativa por parte de outra pessoa. Entramos agora numa fase meticulosa, que tem por escopo assegurar a boa qualidade da produção final da escrita.
1º) “Não construir frases muito longas, nem muito curtas.”
É um velho engano achar que escrever bem é escrever muito. Em redação, como em tantas outras coisas, quantidade não é sinônimo de qualidade. Frases longas e complicadas podem ser indício de que o autor não pensou suficientemente no que desejava dizer, o que, em termos de redação, é um pecado capital. Configuram um sério problema relacionado ao texto: a prolixidade.
Especialmente nos dias de hoje em que as pessoas não dispõem de tempo para ler, não é recomendável criar textos longos, com parágrafos quilométricos. A maior prova disso é que a imensa maioria das revistas, jornais e periódicos de todo tipo já não publica matérias longas e com blocos maciços de texto. Para cativar os leitores, os editores “arejam” o texto com parágrafos curtos, “caixas” de texto – box – com fundo colorido, divisão da matéria em títulos, subtítulos etc. Além do mais, quando o período é muito longo, a tendência do leitor é dispersar sua atenção durante a leitura.
Por outro lado, um texto repleto de frases curtas pode dar a ideia de superficialidade e de pouco domínio no manejo da escrita, ou torná-lo compreensível apenas a um número restrito de leitores. É o que se chama hermetismo, problema que, também, deve ser evitado.
Portanto, reveja as frases longas que forem de leitura difícil e desdobre-as em outras mais curtas. Lembre-se de que as pausas entre a enunciação das ideias proporcionam tempo ao leitor para que ele assimile o que leu. E se perceber que existe um grande número de frases muito curtas, procure aglutiná-las em parágrafos maiores, fazendo uso de conjunções, partículas de transição ou palavras de referência, se for o caso.
2º) “Dê uma sequência lógica ao texto.”
Frequentemente, deparamos com textos confusos devido a frases soltas, deslocadas, sem nenhuma ligação com o restante do parágrafo. Ou então, parágrafos isolados, sem nenhum vínculo entre si. Um texto assim montado, além de dificultar a leitura por não ter harmonia e unidade na mensagem transmitida, pode causar também ambiguidade, um dos piores defeitos em que pode incorrer uma pessoa que escreve.
Para evitar que isso aconteça, encadeie as sentenças e parágrafos de modo fluente, contínuo, formando um conjunto harmônico. Cada sentença deve estar associada com a anterior e relacionar-se com a seguinte. Nenhum enunciado novo deverá ser introduzido de forma abrupta; nenhuma frase ou período deverá estar isolada ou isolado das demais. Dessa forma, obtém-se uma qualidade das mais desejáveis a um texto técnico: a fluência.
A sequência lógica do texto pode ser obtida pelo uso das conjunções (mas, embora, portanto, apesar de, contudo, ainda que, contanto que, desde que etc.) e das partículas de transição (por outro lado, além disso, em síntese, principalmente, razão por que, e outras) que teremos a oportunidade de estudar ao longo deste nosso curso.
Na próxima matéria, veremos os demais requisitos de qualidade do texto escrito.
Colaboração: Sérgio Martins (ex-professor do CEFSA e atual colaborador do Setor de Comunicação nos serviços de revisão de textos)