A História nos ensina que, apesar dos avanços tecnológicos e culturais, a essência humana permanece a mesma. Os antigos romanos buscavam entretenimento em combates de gladiadores, e multidões se reuniam para assistir a batalhas violentas. Hoje, embora não haja arenas dedicadas a espetáculos sangrentos, observamos fenômenos semelhantes nos reality shows, na cultura do cancelamento e na obsessão por escândalos midiáticos. Mas será que realmente evoluímos ou apenas mudamos a forma de expressar nossa atração pela violência?
O Império Romano é frequentemente lembrado por suas contribuições à política, à Engenharia e ao Direito. No entanto, sua sociedade também se estruturava em torno da violência institucionalizada. O Coliseu, inaugurado em 80 d.C., era um dos maiores centros de espetáculos da época, onde o público assistia a duelos, execuções e outros eventos brutais. Esses espetáculos não apenas serviam como entretenimento, mas também reforçavam o poder do Estado sobre a população.
Nos dias de hoje, os atuais meios de comunicação e a internet transformaram a maneira como consumimos entretenimento. Como apontou Guy Debord (1967) em A Sociedade do Espetáculo, vivemos em uma era na qual a realidade é mediada por imagens e eventos espetacularizados, nos distanciando da essência dos acontecimentos e transformando tudo em mercadoria. Reality shows são um exemplo moderno desse fenômeno, nos quais a exposição da intimidade e a exploração emocional dos participantes geram engajamento e audiência. Assim como os romanos se reuniam para assistir ao sofrimento físico dos gladiadores, o público contemporâneo se entretém com disputas e humilhações públicas, reforçando a lógica do espetáculo como forma de consumo.
Tudo isso nos faz questionar hoje se ainda somos os mesmos que os antigos romanos. Filósofos como Thomas Hobbes (1651) argumentam que a natureza humana é inerentemente violenta, sendo a imposição de regras, por meio de leis do Estado, o que mantém a ordem social e essa natureza humana controlada. Já Slavoj Žižek (2010) amplia esse conceito ao afirmar que a violência moderna nem sempre é explícita, mas pode se manifestar de maneira estrutural, marginalizando vozes e perpetuando desigualdades.
Para romper esse ciclo, é necessário reconhecer o importante papel que a sociedade desempenha na perpetuação da violência, seja ela física ou simbólica, como afirma Pierre Bourdieu (1998) em O Poder Simbólico; a violência não se manifesta apenas através da força bruta, mas também na imposição de valores e normas sociais que perpetuam desigualdades de forma invisível. A Liga das Nações, criada após a Primeira Guerra Mundial, tentou estabelecer uma ordem global pacífica, mas a História tem mostrado que a violência não desapareceu – apenas encontrou novas formas de se manifestar. Será que, no futuro, continuaremos a ser apenas versões modernas dos antigos romanos, ou conseguiremos, finalmente, quebrar esse ciclo de entretenimento por meio da violência e construir uma sociedade mais justa?
• Aluna: Sofia Esteves Ramalho
• Professor Orientador: Wallace Tavares Alves Sá