Muito se discute sobre a definição da Administração dentro do campo acadêmico: A Administração é uma ciência, arte ou técnica? Para entender e trazer uma resposta, retomaremos a leitura realizada sobre o artigo A cientificidade da Administração em debate, de Marinês Taffarel e Eduardo Damião da Silva.
A Administração transita entre os três termos. Basicamente, Administração é a ciência cuja função é considerar tudo que explique a realidade por meio de um objeto limitado, podendo ser falseável, isto é, questionada e contestada, para o aprimoramento dos estudos teóricos. A parte técnica da área é a práxis (prática), ou seja, a transformação da realidade. Por fim, o elemento artístico é definido pelo campo da observação, com perspectiva ampla, não se preocupando em transformar ou criar uma realidade, apenas explicá-la.
Para Figueiras (1973), a Administração é uma Ciência Social que busca identificar as leis que regem as relações inter-humanas. Essa discussão se relaciona com o livro Ética e vergonha na cara!, publicado em 2014 por Mario Sérgio Cortella e Clóvis de Barros Filho. Isto é possível, tendo em vista que a ética trabalha as leis que regem o comportamento humano, permitindo as relações entre os indivíduos por meio da escolha. Além disso, segundo Jean Jaques Rousseau (1964), a ferramenta de governo da Administração é a Democracia, afirmação essa que também é defendida ao longo desse livro, visto que a ética pressupõe a opção de escolha, devendo um bom administrador tomar a melhor decisão, sustentado nos valores éticos.
No segundo capítulo, A ilusão da moral do foco no resultado, há um debate sobre a miragem que temos ao focarmos (alusão ao foco da lanterna) apenas em um objeto, no caso, o resultado, deixando de lado fatores importantes, principalmente os valores éticos da empresa. Segundo Cortella, “quando mantemos o foco no resultado, nós não temos ilusão de ótica, temos ilusão de ética”. Isto porque, se o foco está apenas no resultado, qualquer caminho para o objetivo será válido, mesmo que não seja ético. Para exemplificar este fato, o cita a prática do tratamento prioritário que as empresas atribuem à frase “o foco está no resultado”, contrapondo sua sustentação aos atributos missão, visão e valores da empresa, desumanizando(menosprezando) o trabalho de tomada de decisão de um administrador. Logo, se o foco está no resultado, não há preocupação de se analisar os valores das tomadas de decisões para um desenvolvimento ético dos funcionários e da própria empresa, como a honestidade e a transparência.
A título de exemplo, pode ser citada a Fundação Salvador Arena, cujo Código de Ética apresenta os seguintes valores: Altruísmo; Responsabilidade Socioambiental; Ética e Transparência; Disciplina e Competência; Valorização e Respeito às Pessoas; Orgulho de pertencer à Fundação. A partir desses preceitos, observa-se que a instituição preza pelo processo ético e obtém resultados satisfatórios, como o ensino gratuito e o consagrado padrão de qualidade dos produtos da metalúrgica. Observa-se que, no processo seletivo das unidades de ensino da Fundação Salvador Arena, 50% das vagas são destinadas a cotas sociais (poderiam ser obtidos melhores resultados nos índices de avaliação externa se fossem matriculados somente os alunos mais bem classificados na etapa do vestibular, sem a preocupação de cotas), e, mesmo desse modo, a Instituição atinge resultados satisfatórios, sem abrir mão dos valores do seu Código de Ética.
Taffarel e Silva (2015) afirmam que: “De acordo com o raciocínio indutivo, o conhecimento científico é construído a partir de fundamentos fornecidos pela observação e/ou pela experiência”. Este parecer pode ser explicado no capítulo Ética como instrução, em que Cortella afirma que a formação das crianças e jovens dentro de uma sociedade e cultura ocorre pelo espelhamento da conduta dos pais, ou seja, aquilo que observam como conduta prática correta. Entretanto, os autores dissertam sobre outro ponto importante, demonstrando que, caso o ambiente familiar seja desfavorável, há a possibilidade de ocorrer uma condição corruptiva na formação da criança. Um fator que poderia reparar essa situação é um sistema educacional eficiente. À vista disso, concluímos que a educação desempenha um papel primordial no desenvolvimento social dos indivíduos no que diz respeito à existência, modos de dominação e atuação no campo social, observando-se que a ética é um saber que se aplica na prática, ou seja, um conjunto de valores e princípios que usamos para guiar nossa conduta. Diante disso, torna-se essencial o aprimoramento ético dentro das empresas em favor da sustentabilidade por meio da responsabilidade social, ambiental e econômica, com códigos de ética que conduzam a resultados satisfatórios no processo produtivo, mas sempre de acordo com os princípios éticos.
Referências:
CORTELLA, Mario Sergio; FILHO, Clóvis de Barros. Ética e Vergonha na Cara! 1. ed. Campinas, SP: Papirus 7 Mares, 2014.
FIGUEIRAS, RECIO E. Metodología de las Ciencias Sociales. Revista española de la opinión pública. pp 119-151. No. 34, Oct. – Dec., 1973.
Fundação Salvador Arena. Disponível em: https://www.fundacaosalvadorarena.org.br/. Acesso em: 16 mar. 2024.
ROUSSEAU, J.-J. Du contrat social. In: uvres Complčtes. Tomo III. Paris: Pléiade, Gallimard, 1964.
TAFFAREL, M.; SILVA, E. D. da; SILVA, E. D. da. A CIENTIFICIDADE DA ADMINISTRAÇÃO EM DEBATE. Revista Administração em Diálogo – RAD, [S. l.], v. 15, n. 3, 2015. DOI: 10.20946/rad.v15i3.13098. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/rad/article/view/13098. Acesso em: 4 mar. 2024.
• Autoras: Jennifer Mayara da Silva, Lívia Sayuri Takata e Luana Fontes Oliveira, alunos do curso de Administração, da Faculdade Engenheiro Salvador Arena.
• Orientador: professor James Riozo Takahama