Todos nós fazemos uso diário de uma determinada “ferramenta”, um fantástico e indispensável instrumento, através do qual se torna possível nossa comunicação com as pessoas e com o mundo que nos cerca. Sim, você já deve saber que estamos nos referindo à língua, no nosso caso, à língua portuguesa. No entanto, raríssimas pessoas demonstram interesse em conhecer como nasceu o extraordinário idioma que nos serve de meio de comunicação, oral e escrita, dia e noite, noite e dia, ao longo de toda nossa vida.
Então, vamos em busca de sua história. Para isso, precisamos nos valer de um campo de conhecimento específico, uma ciência que estuda os fatos de uma língua no seu desenvolvimento sucessivo, desde a origem até a época atual: a Gramática Histórica. Diferentemente das outras vertentes da Gramática, a Histórica tem por objeto o estudo das origens da língua desde o período de sua formação; além disso, procura explicar as transformações ocorridas no idioma em sua evolução através do espaço e do tempo.
Essas transformações não se deram por acaso, não foram produzidas por modismos ou pelo capricho de homens poderosos, mas obedeceram a tendências naturais, a hábitos fonéticos espontâneos. A constância e a regularidade que foram observadas em tais transformações permitiram aos estudiosos formular os princípios e leis que regem essa ciência. E o mais importante material de estudo foram os textos escritos.
Mas antes de entrarmos propriamente no campo da evolução da língua, é preciso que façamos um breve retrospecto sobre uma nação que representou o berço de nosso idioma: o Império Romano. Antes mesmo do início da Era Cristã, Roma já havia se consolidado como um poderoso Estado e, ao longo do tempo, transformou-se num dos maiores impérios de todos os tempos, especialmente no campo militar. No auge de seu domínio, no século II d.C., o território conquistado pelos romanos abrangia por volta de 7 milhões de quilômetros quadrados, englobando povos da Europa, do Oriente Médio, do Norte da África e até de pequena parte da Ásia.
Apesar de seu poderio militar e da violência de suas ações de conquista, Roma era razoavelmente condescendente com os povos por ela dominados. Suas exigências não eram muitas: uma delas, era a obrigatoriedade do pagamento de impostos; outra: os rapazes jovens deveriam participar do serviço militar; e uma que se reveste de particular interesse para nós: a obrigatoriedade do uso do idioma falado em Roma, no exército, no comércio, nos tribunais, nas inscrições (por exemplo, nos edifícios e nas lápides dos jazigos) e nos documentos em geral (testamentos, escrituras de bens imóveis, registros de todos os tipos etc.).
Vale aqui destacar que a língua falada em Roma era o latim, palavra que advém do nome de uma região da Península Itálica, o Lácio. Durante o desenvolvimento do Império Romano, a língua oficial dos romanos dividiu-se em duas modalidades: o latim clássico, basicamente destinado à escrita, caracterizado pela riqueza do vocabulário, pela correção gramatical e pela elegância do estilo, e o latim vulgar, linguagem exclusivamente falada, usada pelas classes inferiores da sociedade romana, ou seja, os soldados, os marinheiros, os camponeses, os homens livres e os escravos, enfim, o povo de modo geral.
É justamente esta variedade do idioma falado em Roma que irá predominar na comunicação oral entre os povos subjugados; é esse linguajar que irá se aglutinar com o falar das pessoas das mais diversas etnias em todos os quadrantes do Império, dando origem ao que nos dias de hoje denominamos línguas românicas ou neolatinas: espanhol, italiano, francês, romeno, catalão, galego, provençal e, como não poderia deixar de ser, o Português.
No próximo artigo, veremos como surgiu efetivamente a língua portuguesa.
Colaboração: Sérgio Martins (ex-professor do CEFSA e atual colaborador do Setor de Comunicação nos serviços de revisão de textos)