Dando prosseguimento à nossa proposta, entramos agora num outro tema que sempre gera dúvidas a quem escreve: a colocação pronominal. Como já apontamos anteriormente, existe uma diferença de tratamento entre a norma culta (por exemplo: Dê-me um chocolate.) e a fala popular (por exemplo: Me dá um chocolate.). Vamos tentar descortinar, da forma mais simples e clara possível, o que a Gramática estipula sobre esse assunto.
Todos os pronomes oblíquos átonos (me, te, se, lhe, o, a, nos, vos, os, as, lhes) podem ocupar três posições em relação ao verbo: a próclise (antes do verbo). Exemplo: “Ele me pagou a dívida.” A mesóclise (no meio do verbo). Exemplo: “Ele pagar-me-á a dívida”. E a ênclise (depois do verbo). Exemplo: “Ele pagou-me a dívida.”
Neste capítulo, vamos nos ater à próclise. Segundo as regras gramaticais, ela deve ser usada sempre que houver uma palavra atrativa que justifique o adiantamento do pronome em relação ao verbo. Eis os casos em que a próclise deve ocorrer:
- Em orações que contenham uma palavra ou expressão de valor negativo (não, nunca, nada, ninguém ). Exemplos: “Ninguém se apaixona de propósito.” “Não nos iludamos com as promessas do governo.” “Jurema nunca lhe contou a verdade.” “Papai nada me disse sobre esse assunto.”
- Nas orações em que haja advérbios. Exemplos: “Aquele sonho jamais se” “Ontem te viram num prostíbulo.” “Aqui se faz, aqui se paga.”
- Quando vem após pronomes indefinidos (alguém, todos, poucos etc.). Exemplos: “Alguém me disse que tu andas feliz.” “Poucos nos estendem as mãos nas horas difíceis.” “Todos se encantaram com a paisagem.”
- Nas orações iniciadas por pronomes e advérbios interrogativos (quem, qual, que, quando etc.) Exemplos: “Quem irá me amparar no futuro?” “Quando nos convidaram para ir ao casamento?” “Qual momento te fez mais feliz?”
- Quando houver um pronome relativo (que, qual, onde etc.) antes do verbo. Exemplos: “Eis o local onde nos” “Há questões nesse processo que me dizem respeito.” “Ela é a pessoa de quem lhe falei.”
- Após frases exclamativas ou optativas (que exprimem desejo). Exemplos: “Como nos alegram essas crianças!” “Como me maltrataram naquela casa!” “Deus te abençoe!”
- Após conjunções subordinativas (embora, se, conforme, logo, porque etc.). Exemplos: “Embora me agrade, não poderei aceitar a proposta.” “Conforme lhe disse, a vaga já foi preenchida.” “Vou ficar irritado se você me” “Eles já disseram que se comprometeram a pagar a dívida.”
- Após pronomes demonstrativos (este, esse, aquele, aquilo, essa, esta, aquela etc.). Exemplos: “Isso o animou muito.” “Aquilo me deixou muito triste.” “Aquele mestre lhe ensinou tudo o que sabia.”
A próclise não deve ser usada nas seguintes situações:
- No início das orações. Exemplos: “Diga-me seu nome.” “Contaram-lhe uma falsa história.”
- Nas orações imperativas afirmativas. Exemplos: “Sente-se agora e coma.” “Faça-me o favor de sair daqui.” “Ordenei–te a seguir as regras deste estabelecimento.”
- Em orações reduzidas de gerúndio e de infinitivo. Exemplos: “Sorriu, sentindo-se” “Convém dar-me uma resposta agora.”
Quando não existir uma palavra atrativa que obrigue ao adiantamento do pronome, o uso da próclise pode ser facultativo. Exemplos: O diretor me ligou ontem. O diretor ligou-me ontem. Mariana se esqueceu do encontro. Mariana esqueceu-se do encontro. O bandido escondeu-se na mata. O bandido se escondeu na mata.
No próximo artigo, trataremos da mesóclise e da ênclise.
Colaboração: Sérgio Martins (ex-professor do CEFSA e atual colaborador do Setor de Comunicação nos serviços de revisão de textos)
Muito bom! Excelente!
Muito bom! Excelente! Uma forma de entendimento fácil.
Boa noite!
Excelente colocação pronominal!