Crescendo Juntos

Centro Educacional da Fundação Salvador Arena

A gente vive pela arte. Por isso se apaixona.

“Quando um poeta morre as palavras ficam órfãs. Cada poeta é único e sabe do seu labor. […] Por que os versos escolhem umas pessoas e não outras? E por que passam a ser de todos após lapidadas?” (do livro Refúgio no Sábado, de Miriam Leitão)

Se há o dia em que nos despedimos da arte que fazemos, há o dia em que a vemos nascer em nós. Sem bater à porta, pedir licença ou se desculpar pelo incômodo, a arte, de repente, escolhe ficar.

E pode ser que passe uma vida inteira sem que a gente saiba que ela está aqui e só sintamos tudo queimar sem ter a coragem de pôr para fora o que a gente sente. Mas quando se sabe, é como respirar; é como perceber que até aquele momento tudo aquilo que não fazia muita razão de ser, tornou-se nítido, enfim, e agora, sim, a gente pode viver.

Então a arte vem, e a gente se apaixona. A gente se apaixona pelo brilho no olho. A gente se apaixona pelo instante sem o caos, a agonia e o pânico. A gente se apaixona por conhecer a nós mesmos sem mais o medo de nos enxergar. A gente se apaixona por se entender enquanto parte de algum lugar, mesmo que nele não haja ninguém. A gente se apaixona por ouvir a nossa voz. A gente se apaixona até pelo desconforto dos nossos pensamentos. A gente se apaixona por descobrir as palavras, as cores, os traços e as músicas, como se existir fosse novidade. A gente se apaixona por se sentir vivo. A gente se apaixona, sobretudo, por sentir a paixão de fazer, simplesmente, arte.

A gente realmente se apaixona, e por isso dói vê-la ir embora aos poucos todas as vezes em que precisamos entregar nossa atenção às coisas concretas, esquecendo-se de como tínhamos nos apaixonado pela abstração. A gente se despede como se a necessidade de um anulasse a existência do outro; como se fosse fácil banir todo momento de paz porque ocupa tempo demais se concentrar no que não é tão importante: a arte!

Quase sem querer, a gente abdica de tudo aquilo que nos mantém vivos porque esquecemos que o expressar-se não ocupa um espaço sequer que pesa na rotina; toda essa leveza do fazer artístico, na verdade, preenche. Preenche de tal forma que consegue acessar toda parte da gente que já tentou se esquecer de como se ama e se satisfaz de outra que nos lembra que amar é o primeiro passo para se fazer arte e, então, existir. Se as palavras ficam órfãs, que escrevamos tanto que elas herdem toda a poesia do mundo.

• Autor: Bianca Monteiro dos Santos, aluna do Ensino Médio, do Colégio Engenheiro Salvador Arena.
• Orientador: professor Denis Oliveira da Silva.

Compartilhe!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Voltar ao topo