Aviso de incêndio: esse é o caráter fundamental da distopia.
Ainda que possam ser confundidas com histórias de ficção científica, as distopias têm algo de específico: não são apenas projeções criativas do futuro, mas um diagnóstico do presente e daquilo que, a partir da situação atual, pode vir a ser. São, portanto, menos fantasias e mais especulações sobre os possíveis desdobramentos das nossas práticas, políticas e crenças atuais.
Por que ler distopias?
As distopias, embora possam parecer absurdas à primeira vista, acabam nos forçando a olhar para o presente de modo mais crítico, analítico. Afinal, é muito comum que vivamos nosso cotidiano de modo automatizado.
“Era assim que vivíamos então? Mas vivíamos como de costume. Todo mundo vive, a maior parte do tempo. Qualquer coisa que esteja acontecendo é de costume. Mesmo isto é de costume agora. Vivíamos, como de costume, por ignorar. Ignorar não é a mesma coisa que ignorância, você tem de se esforçar para fazê-lo. Nada muda instantaneamente: numa banheira que se aquece gradualmente você seria fervida até a morte antes de se dar conta. ”
O conto da Aia, Margareth Atwood
Antonio Cândido afirma que não existe melhor maneira de chamar a atenção para uma situação do que exagerar em sua descrição e consequências, e as narrativas distópicas são, de forma simplificada, histórias que potencializam um perigo real, às vezes quase imperceptível; bandeiras vermelhas nos lembrando que é preciso estarmos alerta, porque o horror não pede licença, e nem sempre se anuncia.
Outro ponto recorrente nas distopias é o totalitarismo do Estado e seu estabelecimento como decorrência de uma tentativa de aperfeiçoamento da sociedade e do sistema político, ainda que a boa intenção possa, e muitas vezes pareça, se limitar ao discurso. Assim, essas histórias nos mostram que nada é tão simples, bem e mal não se distinguem tão facilmente, soluções instantâneas podem ser perigosas e nossa capacidade de olhar criticamente para o passado, o presente e o futuro pode e deve ser exercitada.
INDICAÇÕES
• 1984 – George Orwell
• Admirável Mundo Novo – Aldous Huxley
• Divergente – Veronica Roth
• O doador de memórias – Lois Lowry
• Fahrenheit 451 – Ray Bradbury
• Jogos Vorazes – Suzanne Collins
• A Máquina do Tempo – H.G. Wells
• Não verás país nenhum – Ignácio de Loyola Brandão
• Neuromancer – William Gibson
Cintia da Silva Yamanaka (Colaboradora do CDMR)