Já vimos na parte VIII deste estudo algumas regras da regência verbal e alguns exemplos práticos de como ela funciona. Neste capítulo, nosso foco será um tema correlacionado a esse e que, geralmente, traz muitas dúvidas a quem escreve: a concordância verbal.
De modo bem claro e simplificado, podemos definir concordância verbal como a relação harmônica entre sujeito e verbo. Em outras palavras, o verbo deve concordar em número (singular ou plural) e pessoa (primeira, segunda ou terceira) com o núcleo do sujeito da frase. Vejamos um exemplo: “O homem não é um dos mamíferos mais generosos da natureza”. Nesta frase, o verbo “ser” está na 3ª pessoa do singular concordando com o núcleo do sujeito (homem), também na 3ª pessoa do singular; da mesma forma, o adjetivo “generosos” (masculino plural) concorda com o substantivo “mamíferos” (também no masculino plural). Eis algumas regras gerais:
- Sujeito simples: o verbo concorda com o sujeito em pessoa e número. Exemplos: “O leão dorme” (sujeito = 3ª pes. sing. – verbo = 3ª pes. sing. concordância de pessoa – concordância de número). “Dormimos mais do que a girafa.” (sujeito subentendido = nós). “São perigosos os caminhos desta vida.” (sujeito posposto – núcleo = caminhos – adjetivo = perigosos).
- Sujeito composto: se o sujeito for composto por elementos da 3ª pessoa gramatical, o verbo também irá para a 3ª pessoa do plural. Exemplos: “O gato e o cachorro dormem mais do que o homem”. “Os cavalos e as girafas dormem ” Se o sujeito for composto por elementos de pessoas gramaticais diferentes, o verbo irá para o plural, obedecendo à seguinte ordem: 1) a primeira pessoa prevalece sobre as demais. Exemplo: “O zoólogo (3ª pes. sing.) e eu (1ª pes. sing.) alimentaremos (1ª pes. plur.) os animais.” 2) a segunda pessoa prevalece sobre a terceira. Exemplo: “O zoólogo (3ª pes. sing.) e tu (2ª pes. sing.) alimentareis (2ª pes. plural) os animais.”
Casos particulares
- Sujeito formado por expressão partitiva (uma porção de, parte de, a maioria de, etc.): o verbo pode ser conjugado tanto no singular como no plural. Exemplos: “A maior parte dos animais dorme / dormem de forma intermitente.” “Pesquisa revela que 67% da população ouve / ouvem rádio no carro.”
- Sujeito formado pela expressão “mais de um”: neste caso, o verbo deve ficar no singular. Exemplo: “Mais de um candidato desistiu da eleição.” “Mais de uma oportunidade surgiu na sua vida.”
- Casos particulares: nas frases em que aparece o pronome “que” (relativo), na ordem direta, a concordância é simples, com o sujeito. Exemplos: “Sou eu que recebo os convidados.” “És tu que recebes os convidados.” “Somos nós que recebemos os candidatos.”
No entanto, com o pronome “quem” (relativo), ambas as regências são permitidas. Exemplos: “Sou eu quem recebe / recebo os convidados.” “Eram as mães quem tirava / tiravam os filhos da cama.” Muitas vezes, a ordem dos elementos gramaticais não é direta na frase, ou seja, a oração principal vem posposta à subordinada. Nesses casos, o verbo deve concordar com o sujeito. Exemplos: “Quem redigiu o trabalho fui eu.” “Quem vai ser preso serás tu.” “Quem a levou para casa foram dois desconhecidos.”
Outro caso a ser estudado é o da expressão “um dos que”, que geralmente admite as duas regências. Exemplos: “Ela é uma das mulheres que optou / optaram pela vida solitária.” “O Juventus é um dos times que ganhou / ganharam o campeonato italiano.” “Ele foi um dos que mais se destacou / se destacaram na empresa.”
Este tema é amplo, um tanto complexo e conta com muitas particularidades, que não caberiam totalmente neste espaço. Portanto, voltaremos a revê-lo numa próxima oportunidade. Caso você, caro leitor, tenha dúvidas específicas sobre este assunto, encaminhe-as ao Setor de Comunicação, que teremos prazer em tentar dirimi-las.
Conforme combinado, o próximo artigo irá contemplar a concordância nominal. Até lá!
Colaboração: Sérgio Martins (ex-professor do CEFSA e atual colaborador do Setor de Comunicação nos serviços de revisão de textos)