As dúvidas gramaticais continuam a existir, com ou sem pandemia. Pessoas das mais diferentes posições sociais – estudantes, advogados, pesquisadores, médicos, auditores etc. etc. – enfrentam grandes dificuldades ao redigirem seus textos em razão de questões da gramática, as quais, muitas vezes, mesmo sendo de menor importância, atrapalham significativamente a produção da escrita. Neste artigo, vamos tentar elucidar algumas dessas questões:
- Mais e mas: “Gostei muito do imóvel, mais não pude comprá-lo” (errado) “Mais” é usado principalmente como advérbio de intensidade, transmitindo uma ideia de quantidade ou intensidade. Exemplo: “O imóvel de minha prima é mais caro que o meu. “Mas” é uma conjunção adversativa, que transmite a ideia de oposição ou limitação. Exemplo: “Gostei muito do imóvel, mas não pude comprá-lo.”
- Agente e A gente: “Agente vai viajar amanhã.”(errado) “Agente” é um substantivo comum que se refere a uma profissão (aquele que age, que exerce uma ação). Exemplo: “Nosso filho passou no concurso para agente da polícia federal”. “A gente” é uma locução que equivale ao pronome pessoal “nós” e deve ser conjugada na 3ª pessoa do singular. Exemplo: “A gente vai viajar amanhã”.
- A fim e Afim: “O governo aprovou essa lei afim de evitar sonegação” (errado) “Afim” é um adjetivo e deve ser empregado para indicar que uma coisa ou pessoa tem afinidade com outra coisa ou pessoa. Geralmente é usado no plural. Exemplo: “Lourenço e Marcela tinham ideias afins”. “A fim de” exprime ideia de finalidade e pode ser substituída por “para”. Exemplo: “Os funcionários se esforçaram muito a fim de conseguir aumento salarial.”
- Anexo, anexa, em anexo: “Encaminho a ata anexo ao formulário”. (errado) “Anexo” é um adjetivo e deve concordar com o substantivo ao qual se refere, em gênero e número. Exemplo: “Encaminho a ata anexa ao formulário”. Já a expressão “em anexo” é invariável e pode ser usada em ambos os casos (“Encaminho a ata em anexo ao formulário”). Contudo, alguns gramáticos condenam o uso dessa expressão. Portanto, evite usá-la.
- Onde e Aonde: “Ninguém sabia aonde o bandido estava escondido”. (errado) Ambos os termos são advérbios que indicam lugar, porém a preposição “a” anteposta ao verbo indica que ele deve ser usado em relação a verbos que indicam movimento. Assim: “Ninguém sabe aonde ele foi.” Mas: “Ninguém sabia onde o bandido estava escondido”. Em caso de dúvida, basta substituir “aonde” por “para onde”.
- Encima e Em cima: “A carteira estava encima da mesa.” (errado) A forma “encima” vem do verbo encimar, que significar alçar, elevar, colocar acima de. Exemplo: “Uma bandeira encima o portal do monumento”. A expressão “em cima” transmite a ideia de que algo está em um lugar mais alto do que outro: “A carteira estava em cima da mesa.”
- Em baixo e Embaixo: “A caixa de ferramentas estava em baixo da cama.” (errado) A forma “em baixo” só é usada quando a palavra “baixo” assume a função de um adjetivo. Exemplo: “A figura foi gravada em baixo” “Neste recinto só é permitido falar em baixo tom de voz.” Já a palavra “embaixo” representa a ideia de posição de inferioridade, sinônima de “abaixo”, “debaixo”. Exemplo: “A caixa de ferramentas estava embaixo da cama.”
- Debaixo e De baixo: “Os policiais encontraram uma arma de baixo do sofá” (errado) Quando escrita de maneira separada, a expressão de baixo exerce a função de adjetivo de modo, que qualifica o substantivo na frase. Exemplo: “O presidente usou palavras de baixo calão.” Já a palavra “debaixo” é um advérbio de lugar, que significa que algo está localizado na parte inferior em relação a outra coisa. Exemplo: “O pobre homem mora debaixo da ponte.”
No próximo artigo sobre gramática vamos destacar mais questões como as aqui apresentadas para sanar outras dúvidas de nossa língua.
Colaboração: Sérgio Martins (ex-professor do CEFSA e atual colaborador do Setor de Comunicação nos serviços de revisão de textos)