No texto anterior, tratamos de dois aspectos de suma importância quando o assunto é escrever bem: a linguagem e a metodologia. Encerramos o artigo definindo as básicas diferenças entre a linguagem falada, geralmente descontraída e informal, e a linguagem escrita, de modo geral, circunscritas a regras gramaticais e com caráter formal.
Como já havíamos enfatizado, a grande vantagem do texto escrito em relação à linguagem falada é a sua perenidade, ou seja, tudo aquilo que escrevemos fica documentado, registrado permanentemente, ao passo que aquilo que dizemos fica registrado apenas na memória dos ouvintes.
Por esse motivo, devemos tomar todo o cuidado para escrever sempre de forma absolutamente correta, quer se trate de um livro, uma tese, um relatório, uma carta ou um simples bilhete. Aquilo que escrevemos vai ser sempre um retrato de nosso conhecimento sobre um determinado assunto, de nossas ideias e opiniões, de nosso nível cultural e até mesmo… de nossa personalidade! Portanto, escrever é algo muito sério.
Outra recomendação importante é só escrevermos sobre um assunto do qual temos pleno conhecimento. Aqui reside, muitas vezes, o problema maior de quem vai redigir um texto e que pode comprometer desastrosamente o resultado final: não ter as informações necessárias para desenvolver satisfatoriamente o tema. Em muitos casos, as dificuldades não são propriamente de falta de técnica ou de prática no ato de escrever, mas de desconhecimento do assunto.
Por exemplo, não é possível escrever sobre poluição ou sobre tóxicos se não tivermos certo grau de conhecimento desses temas para estabelecermos prioridades, dividirmos os itens, distinguirmos o que é relevante do que é secundário, citarmos exemplos e assim por diante. Por conseguinte, antes de iniciar seu texto, não deixe de fazer esta pergunta para si mesmo: “Eu conheço o suficiente sobre o assunto sobre o qual pretendo redigir? Tenho condições de escrever sobre ele?”
Finalmente, não podemos nos esquecer das diferenças entre o texto literário e o técnico. Embora essa distinção, à primeira vista, pareça simples e até óbvia, muitas pessoas comprometem seriamente seus textos ao utilizarem indistintamente os recursos de um ou de outro tipo de redação. Basicamente, a principal diferença é que o texto literário é essencialmente subjetivo. Ou seja, o autor lança mão de palavras com dois ou mais sentidos (conotação); exprime livremente suas opiniões, sentimentos e sensações; utiliza-se de recursos estilísticos, tais como as figuras de linguagem (a metáfora, por exemplo!), a adjetivação, a voz passiva, a repetição de palavras e imagens; dá pouca ou nenhuma atenção à precisão e à coerência, fazendo uso, inclusive, da ambiguidade; enfim, preocupa-se principalmente com a forma. Exemplo disso são os romances, contos, poemas, crônicas e todos os tipos de textos pessoais, informais, em suma, subjetivos.
Já no texto técnico tais recursos não podem ser usados em hipótese alguma. Pelo contrário, deve-se usar palavras que não tenham sentido duplo ou dúbio (denotação); jamais basear-se em opiniões, e sim, em fatos, gráficos, dados, análises científicas e informações comprovadas; o texto tem de ter coerência e precisão, ser conciso e objetivo. Em outras palavras, deve estar voltado para o conteúdo. Como exemplo, podemos citar os relatórios, as teses, os trabalhos de conclusão de curso, as reportagens, os textos jurídicos, os livros técnicos etc.
Colaboração: Sérgio Martins (ex-professor do CEFSA e atual colaborador do Setor de Comunicação nos serviços de revisão de textos)